segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Sorte e Matéria

tomado à sua presença 

suspenso mergulho em teus olhos 

perplexo a tal paradoxo

do curso dessa existência 


meu braço eriçado sucumbe

ao riso mais puro da aurora

desejo incauto de agora

em lastro ao futuro se funde


o vento que afaga a pele

sugere uma amálgama nossa

e a bossa que nasce em teus lábios 

consola-me a certa distância 


despeço-me absorvido 

preparo uma nova estratégia 

ao homem que morre e renasce

a sorte não traz a matéria 


de noite aprecio memórias

encaixo possíveis desfechos

um beijo, um sorriso ou recusa

adormeço em tal devaneio


a noite aprofunda a clareza

beleza milagre encontro

a sorte é ensejo no tempo

amanheço alegre e atento

domingo, 27 de julho de 2025

o estar dissolve

imerso em graça

no tempo esparso

em escasso ensejo


na noite vasta

permeio o espaço

desejo inato

enlaço incauto

quarta-feira, 23 de julho de 2025

o Não há de ser honesto 

em vão o talvez adestro

em verso iNverto o incerto

no cerne acerto a fuga


a ruga à fuga cede

na sede aqui sucumbe

o olho enfim fadiga

e o espaço aluga o tempo

domingo, 29 de junho de 2025

No barulho há um portal. De forma indesejável e inconveniente, esse portal no barulho e também no silêncio. Por mais que se racionalize e que haja toda espécie de sermão, doutrina ou orientação, persiste o portal. A cada dia ele me engole um pouco mais, pois há mais passado que futuro.  Assim que dissocio do presente, suspenso e surdo, apenas a poeira que reflete a luz do sol me conecta à realidade.

terça-feira, 17 de junho de 2025

já escrevi bons poemas juro

hoje só escrevo o atropelo da existência

sem edição releio o erro

sem rendição re-erro e escrevo

sexta-feira, 11 de abril de 2025

uma profecia da sombra me faz desenhar a tempestade na xícara de café
eu estava anestesiado por muito tempo, mergulhado no trabalho, na droga e em problemas que não eram meus
dai você manda uma mensagem
dessas completamente despretensiosas mas que me fazem chorar a semana inteira e participar de reuniões com dor de cabeça
só escrevo agora porque não tem mais saída
só escrevo porque ainda tenho pena dos meus pais e de você
escrevo porque chorar escondido já não tá aliviando tanto
porque até respirar tá complicado
então eu me sento aqui, desconsiderando totalmente o que me garante pagar o aluguel no fim do mês e escrevo.
apenas pela necessidade subconsciente de continuar.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Aqui novamente

 Para te dizer que jamais tive razão. E ainda hoje flashes de sorrisos invadem minha febre. Porque eu nunca soube construir de outra forma, e isso serviu apenas à poesia, esqueci a gramática e a ortografia em detrimento dela, empobreci e cortei minhas raízes. 


Tô aqui hoje pra dizer que, embora a poesia tenha livrado minha cara de um suicídio, não devo mais nada a ela, nem a você. Espero que você se sinta bem em saber que a poesia pode ser esquecida em um sebo no centro, ou servir de asilo num hotel sujo no centro oeste.


Eu nunca participei disso, você sabe. A poesia só me deu a mão pro abismo que é você. Tudo isso é a mesma coisa, olhando febril o céu azulado e sorrisos cortados por flashes de lucidez.


Te procuro na feira da Santa Cecília apenas pra te pedir, se posso finalmente ir embora. Eu não tenho mais problema em ficar sozinho, não consigo mais me esconder porque tudo está absolutamente claro. Estou longe de mais de tudo nesse espaço-você-poesia, estou cansado.