sexta-feira, 11 de abril de 2025

uma profecia da sombra me faz desenhar a tempestade na xícara de café
eu estava anestesiado por muito tempo, mergulhado no trabalho, na droga e em problemas que não eram meus
dai você manda uma mensagem
dessas completamente despretensiosas mas que me fazem chorar a semana inteira e participar de reuniões com dor de cabeça
só escrevo agora porque não tem mais saída
só escrevo porque ainda tenho pena dos meus pais e de você
escrevo porque chorar escondido já não tá aliviando tanto
porque até respirar tá complicado
então eu me sento aqui, desconsiderando totalmente o que me garante pagar o aluguel no fim do mês e escrevo.
apenas pela necessidade subconsciente de continuar.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Aqui novamente

 Para te dizer que jamais tive razão. E ainda hoje flashes de sorrisos invadem minha febre. Porque eu nunca soube construir de outra forma, e isso serviu apenas à poesia, esqueci a gramática e a ortografia em detrimento dela, empobreci e cortei minhas raízes. 


Tô aqui hoje pra dizer que, embora a poesia tenha livrado minha cara de um suicídio, não devo mais nada a ela, nem a você. Espero que você se sinta bem em saber que a poesia pode ser esquecida em um sebo no centro, ou servir de asilo num hotel sujo no centro oeste.


Eu nunca participei disso, você sabe. A poesia só me deu a mão pro abismo que é você. Tudo isso é a mesma coisa, olhando febril o céu azulado e sorrisos cortados por flashes de lucidez.


Te procuro na feira da Santa Cecília apenas pra te pedir, se posso finalmente ir embora. Eu não tenho mais problema em ficar sozinho, não consigo mais me esconder porque tudo está absolutamente claro. Estou longe de mais de tudo nesse espaço-você-poesia, estou cansado.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

será que se eu escrever errado você me nota? 

ou se alguém te falar que eu sou um lixo você bota fé? 

ainda não encontrei nada para justificar a dor do desengano, por isso mesmo vou esparramando-a por aí 

quem entra pela porta, se torna parte. até partir e deixar fração. seu quinhão também carrega por vezes até fé cega nalgo que inexiste 

todos tem palpite eu tenho palpitação 

desde o ventre até a parição na primeira viagem do ultimo vagão 

vou me embora antes de grudar no chão 

os planetas são plantados no espaço 

sem plateia radicela me calço 

de você me resta só desembaraço

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

desperdício

acalmando as mãos pela necessidade de escrever, da mesma forma que desabo na cama ao fim do dia. tudo se modificou e vi acontecer como se adiantasse o vhs de um filme conhecido. como se meu tornozelo estivesse preso na loca de um peixe, sinto a maré subir devagar na iminência do próprio afogamento. preparando-me para o que nunca saberei participar, apenas desejando profundamente um plano de saúde e décimo terceiro. pensando na mesma mulher ciente do paradoxo autodestrutivo deixando meus amores perdendo meus lares em busca de mim mesmo. esmagando novamente a argila moldada a cada novo passo e ecoando no templo vazio que é o propósito.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

A força que deveria revelar-se no instante de partir para te preservar tornou-se opaca.

E o ultimo ensejo embriagou-me no gole de alcool sem perceber nada além da própria dor.

Egoísta por tentar ter pra sempre e preso na ilusão que cobra a sanidade.

esperando por longos anos, uma intersecção.  

nao há como livrar-se do teatro e o personagem ainda me persegue. um produto da relação de pelo menos duas potências fundamentais. e soma-se infindas existências que se absorvem. agora depois de mil pensamentos cozinhando batata doce, ouvindo o ronronar do vizinho bebado e sua esposa possessa. penso em você

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Na estação

esperando alguém mas pensando na possibilidade de te ver passar

duas mulheres e duas crianças, uma das crianças vem até mim

alerto a mulher que tome cuidado

as duas crianças brincam e caem nos trilhos

as mulheres não ligam

peço a meu amigo e tiramos as crianças dos trilhos

o maquinista já havia desviado para outros trilhos e parece que nada teve real importancia

acordo com o peito apertado, não pelo sonho, mas por inevitavelmente continuar procurando seu rosto na multidão. neurose obsessiva. 

com o indicador afasto um pouco a janela e vejo o céu que me parece ser o mesmo da vila Rica.

quando o olho me parece que é o mesmo tempo, a mesma utopia, a mesma distancia.

fecho os olhos e vejo a silhueta do rosto de Jesus, pelo resto de luz que ficou no meu nervo óptico.

ele sorri, mas quando percebe meu ceticismo fecha a cara. agora ele tem uma lança na mão e mira no meu peito. suplico para que não demore sequer mais um segundo. 

domingo, 12 de maio de 2024

quando despertei do nosso encontro, simultâneo ao movimento desordenado do entorno, forcei-me a dormir novamente. te encontrei semidesperta debaixo de uma manta e prosseguimos nosso ritual indolente a nivel quântico. em tal manhã de domingo desperto magnetizado, o arrepio que percorre meu corpo com o toque do vento macio me faz sorrir sem motivo. qualquer que seja a realidade firmada na terra, nada mais me importa além do espaço em que somos.